Dicionário Larousse de "Brasileiro", 15 de Setembro

Dicionário Larousse de “Brasileiro”

Vamos evitar a batota

Arnaldo Niskier Especial para Diário da Manhã

No mundo lusófono, à exceção do Brasil, continua acesa a discussão em torno da aplicação do Acordo Ortográfico de Unificação da Língua Portuguesa. Enquanto aqui as coisas amainaram, em Portugal há um grupo de escritores insistindo na tese de que queremos o Acordo para exercer sobre os demais países uma forma inaceitável de neocolonialismo cultural. Foram longe em demasia.

No “Jornal de Angola”, houve um bem escrito editorial sobre a matéria. Afirmava que a língua portuguesa é patrimônio de todos os povos que a falam e toca num ponto interessante: “Uma velha tipografia manual em Goa pode ser tão preciosa para a língua portuguesa como a mais importante empresa editorial do Brasil de Portugal ou de Angola.” O importante é que todos respeitem as diferenças e que não se transacione com os afetos que a língua veicula. Que sejam respeitadas as especificidades de cada povo, partindo do princípio de que somos falantes de uma língua que tem o latim como matriz.

Até aí estamos todos de acordo. O que se visou, com o Acordo de 1990, foi obter uma simplificação (modesta, pois não atinge 3% da totalidade dos vocábulos) para permitir que o português fosse adotado na ONU como língua oficial, um velho pleito dos nossos diplomatas e acadêmicos.

Isso não ofende o direito sagrado dos que sabem menos de serem ajudados a saber mais. É o grande papel da educação, em que estamos todos empenhados. O “Jornal de Angola” é veemente: “Nunca descer ao seu nível. Porque é batota!

Antes de prosseguir, fomos buscar no Houaiss o significado desta última palavra: fraude ou qualquer forma de trapaça. Não vemos, sinceramente, nos que lutam por uma língua única qualquer sentido menos nobre, muito menos gabolice, como pode ser também uma interpretação da palavra batota.

Citamos novamente o periódico, na referência ao escritor Dario Fo, Prêmio Nobel de Literatura: “O patrão é patrão porque sabe mais palavras do que o operário! O que importa é escrever corretamente a nossa língua, deixando que cada povo fale como é seu costume. O que fizemos, na Academia Brasileira de Letras, ao estudar o assunto, foi preservar o étimo latino e respeitar as diferenças. Não se procurou abafar a originalidade de qualquer dos povos concernentes, nem muito menos associar os estudos acadêmicos, sob a liderança do insuspeito e competente filólogo Antonio Houaiss, a qualquer interesse menor pelo comércio das palavras. Seria essa uma visão reducionista e mesquinha, totalmente improvável pelo nível das pessoas envolvidas no projeto.

(Arnaldo Niskier da Academia Brasileira de Letras, presidente do CIEE/Rio e Professor Emérito da ECEME.)

[Transcrição integral (respeitando, obviamente, a ortografia brasileira do original) de artigo da autoria de Arnaldo Niskier publicado em 18.03.15 pelo jornal (“online”) brasileiro “Diário da Manhã”. “Links” adicionados por nós, à laia de comentários.]

 

QUE GENTE É ESTA que continua a insistir em acreditar e impor uma extensa lista de mentiras: uma “unificação ortográfica” que o próprio AO diz não ser possível, uma desnecessária unificação ortográfica como o caminho para uma cada vez mais impossível compreensão entre Portugal e os PALOP de um lado e o Brasil do outro, a criação de um fosso ortográfico até aqui não existente (por via das facultatividades ortográficas) e a MENTIRA do português-língua-oficial-da-ONU, rapidamente desgraduado para “língua documental”, a pagar, evidentemente, e para a qual os estudos económicos e de custo-benefício (agora tão necessários…) pedidos e iniciados em 2008 ainda não viram a luz do dia? De desgraduação em desgraduação, a língua portuguesa “muito grande” (por causa do Brasil), sempre em “expansão”, “universal” e até “oficial” propõe-se agora, por sugestão da CPLP, traduzir uns sites de organizações internacionais…
João Roque Dias (2011)

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