«By destroying the words themselves, the state would be able to destroy the concepts they represented.»
George Orwell, “1984”

«Discussão:facto
Boa. Cheguei aqui à procura dum significado digno da palavra facto, mas em vez disso fui remetido para fato. Aí, encontrei quase um rascunho do sentido que procurava, o sentido 5. Mas, quando segui o link para o sinónimo, a ver se havia um significado um pouco mais desenvolvido, descobri que vinha dar a esta página outra vez. É obra. Quem procura facto sai deste dicionário com a ideia que significa fato. Quando é fato que pode ser também fa(c)to.

Fato e facto
São palavras da Língua Portuguesa, com o mesmo significado para todos os falantes.–antoniolac 00:38, 19 Janeiro 2007 (UTC)
Wikcionário “lusófono”

Verifique-se a data desta “reclamação” e depois a da última alteração da entrada respectiva: «Esta página foi modificada pela última vez às 05h17min de 24 de março de 2012.»

Por aqui se vê que pelo menos esta “reclamação” (de João Ricardo Rosa, activista da ILC) produziu efeitos, ou seja, os editores acordistas do Wikcionário re-introduziram à pressa a entrada sobre o termo “Facto”; isto porque, é claro, o AO90 prevê a dupla grafia “facto/fato” e eles, atarefadíssimos na sua obsessiva caça à “consoante muda”, tinham abatido ali um C a mais, de faCto, como terão de repente constatado.

Mas isto é apenas uma excepção para confirmar a regra, evidentemente, apenas e só porque o “acordo” que regula a “língua unificada” prevê mesmo não apenas aquela como outras 69 000 duplas grafias, das quais 4 000 integralmente novas, geradas, criadas, inventadas pelo mesmíssimo “acordo” que as iria abolir.

E é uma excepção também porque, como já vimos antes, não é permitido (pela Wikipedia e serviços quejandos) reverter a ortografia acordizada para a da norma Pt-Pt. E já vimos igualmente que não apenas é proibido reverter como toda a ortografia da norma em vigor em Portugal, em Angola e em Moçambique está a ser convertida, à força e com efeitos retroactivos, para a versão acordista.

De facto, designámos anteriormente este processo como genocídio linguístico mas o PAEC (processo de aniquilamento em curso) é ainda mais abrangente (e terrível) do que isso, visto que além de estropiar a ortografia de cada entrada lexical ou enciclopédica, por arrastamento “uniformiza” também os conteúdos. Ou seja, expliquemo-nos detalhadamente quanto a isto, mais uma vez, porque se trata de algo dificílimo de compreender e mais ainda de aceitar: os conteúdos explicativos, as ilustrações e os exemplos de cada uma das entradas lexicais estão a ser sistematicamente substituídos por… explicações brasileiras, ilustrações brasileiras e exemplos brasileiros.

Vejamos, assim um pouco “à sorte”, o caso da entrada wiki sobre “Metonímia”.

«Por exemplo, “Palácio do Planalto” é usado como um metônimo (uma instância de metonímia) para representar a presidência do Brasil, por ser localizado lá o gabinete presidencial.»

Perdão? Como? “Palácio do Planalto”? Para mim, que não sou brasileiro, já agora, se me é permitido, pergunto: o que diabo vem a ser isso de “Palácio do Planalto”? Ah, é a morada oficial do Presidente do Brasil, obrigado, compreendo; sim, mas porquê a do Presidente do Brasil? Porque não a do Presidente de Angola? Ou a do Presidente de Moçambique? Ou ainda, e sempre apenas por exemplo, que mal fez à Wikipedia “lusófona” o portuguesíssimo, se bem que certamente modesto, “Palácio de Belém”?

Será que antes, quando havia naquele serviço duas versões, “Português” e “Português do Brasil”, naquela que não era “do Brasil” já se referia o “Palácio do Planalto”? Não estaria lá, nessa versão diferenciada, o nosso velhinho palácio presidencial?

Pois, isso pelos vistos nunca mais viremos a saber: como já aqui demonstrámos, toda a História está a ser sistematicamente apagada ou, pior, muito, muito pior, toda a História está ser substituída pela versão “atual” do Português, como se nunca tivesse havido outra coisa além desse aleijão.

Pois é claro que os exemplos ilustrativos deste fenómeno de extermínio cultural em massa encontram-se por todo o lado e com muita facilidade. Basta procurar seja o que for para verificar a sistematização implacável do processo.

Apenas mais uma amostra, tão ao acaso como a anterior: vejamos o que diz a Wikipedia “lusófona” sobre “Metáfora“. Sem palavras, porque uma imagem vale ainda seguramente, hoje como ontem, por mil daquelas “coisas”.

Antes ficámos a saber que as entradas lexicais em Português-padrão estão a ser exterminadas selectivamente, com efeitos retroactivos, agora ficamos também cientes de que os conteúdos o estão a ser na mesma medida: a ortografia portuguesa “nunca existiu”, pretendem os acordistas, como jamais houve fosse o que fosse em Português… fora do Brasil.


Esta imagem é uma das últimas provas que restam de que havia duas grafias do Português na Wikipedia. Ainda lá está hoje, esquecida, numa recôndita página de acesso. Mas até esta será rapidamente apagada, é certo e seguro, porque aos acordistas não interessa deixar qualquer vestígio de que alguma vez existiu algo mais do que uma única “língua unificada” e uma só “cultura lusófona”; num único país pelos vistos, porque os “restantes” não contam para nada.

Já aqui foi citado a propósito, porém nunca será de mais relembrar as sábias, premonitórias, certeiras palavras de George Orwell.

«O objectivo da Novilíngua não é apenas oferecer um meio de expressão para a cosmovisão e para os hábitos mentais dos devotos do IngSoc, mas também impossibilitar outras formas de pensamento. Tão logo for adoptada definitivamente e a Anticlíngua esquecida, qualquer pensamento herético será literalmente impossível, até ao limite em que o pensamento depende das palavras. Quando esta for substituída de uma vez por todas, o último vínculo com o passado será eliminado

“1984” é agora.

Nota: as imagens neste “post” são “screenshots” (uma espécie de fotografias do que se vê no ecrã do computador em determinado momento) obtidas na data de publicação deste mesmo “post”; é possível que haja nos respectivos endereços (URL) alterações posteriores efectuadas pela própria Wikipedia.

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