A organização literária PEN Internacional condenou por unanimidade o Acordo Ortográfico (AO), dizendo em comunicado que a estandardização da língua portuguesa é uma proposta de natureza administrativa e comercial. Tentar centrar uma língua nestas prioridades “é enfraquecê-la”, defendem.

Numa nota assinada por Teresa Salema, presidente do PEN Clube Português, e Maria do Sameiro Barroso, vice-presidente, que levaram o tema ao 78.° Congresso do PEN Internacional, que reuniu até sábado na Coreia do Sul delegações do PEN de 87 países, as dirigentes escrevem que “todos sentiram o carácter nocivo e desestabilizador de uma medida que fere os princípios pedagógicos da democracia, nomeadamente a intenção de contribuir para um aprofundado contacto de amplas camadas das populações com a diversidade linguística e a herança cultural”.

O tema já tinha sido levado à comunidade internacional em Junho deste ano quando o PEN Clube Português se mostrou preocupado com a discórdia em torno do AO. Na altura a organização lamentou a medida e sublinhou a falta de opções para os escritores que são contra a sua aplicação, argumentando que estes ou se submetem à nova ortografia, mesmo que vá contra os seus ideais, ou correm o risco de não verem as suas obras publicadas.

Esta situação foi vista com grande preocupação pelo PEN Internacional, que alertou para o perigo de se perderem características históricas da língua. “Tanto quanto podemos ver, não há nada na iniciativa portuguesa que faça mais do que limitar a força natural da língua, tentando limitar a sua criatividade através de um colete-de-forças de regras burocráticas”, nota a organização internacional no mesmo comunicado, lembrando os exemplos da língua espanhola e inglesa. “São precisamente as diferenças locais, nacionais e hemisféricas dentro da língua espanhola que lhe conferem uma força crescente.” Também no caso da língua inglesa, a organização defende que é a sua abertura face às diferenças que lhe dá força. “É a natureza competitiva, independente e divergente das regiões inglesas que se tornou na marca distintiva da sua força.”

[Transcrição integral de notícia do jornal “Público” de 18.09.12, da autoria de Cláudia Carvalho. Link disponível apenas para assinantes do jornal.]

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