“Acordo Ortográfico é completamente inútil”
Inês Pedrosa, escritora, fala sobre o novo Acordo Ortográfico, esperando continuar a escrever segundo a antiga grafia
Por:Rui Pedro Vieira
Correio da Manhã –É contra a aplicação do novo Acordo Ortográfico?
Inês Pedrosa – A minha discordância profunda deve-se ao facto de aquilo que o move, que é uma suposta unificação ortográfica, na verdade não se verificar. É uma coisa ignorante. No termo ‘recepção’, por exemplo, à luz do novo acordo perde-se o ‘p’, mas os brasileiros mantêm–no porque o lêem.– Falha, portanto, o seu principal objectivo…
– Sim. Gastou-se muito tempo e dinheiro para um acordo que não funciona. E era preciso contabilizar isso… Há palavras que perdem a referência ao latim, algo que nos permitia perceber a etimologia. O novo acordo é, no fundo, completamente inútil.– Mas vai agora ser aplicado nas escolas.
– Sim. Os alunos vão aprender a nova ortografia, e o que vai acontecer é que se vai deitar livros fora e as pessoas vão deixar de saber escrever. Li o texto do acordo e posso dizer que dificulta a compreensão da língua.– Está habituada a ler à luz das novas regras?
– Não perturba a leitura. Há diferenças. Tenho lido jornais que seguem o novo acordo, mas há um empobrecimento da língua.[Transcrição integral de artigo publicado no jornal Correio da Manhã de hoje, 02.09.11.]
Literatura: Editoras já aplicam a nova grafia
Acordo à vontade do autor
A maioria dos autores nacionais vai continuar a poder publicar livros à luz da escrita pré-acordo ortográfico. Apesar de muitas obras começarem a chegar às livrarias nas próximas semanas com as novas regras – seguindo também a sua aplicação no novo ano lectivo –, as grandes editoras deixam do lado dos escritores a decisão de aplicarem a nova grafia. E muitos nomes, incluindo António Lobo Antunes, Miguel Sousa Tavares, Inês Pedrosa, Vasco Graça Moura ou Mia Couto, estão contra.
Por: Rui Pedro Vieira
Ao CM, o grupo Leya, que representa os nomes acima citados, assume que “começaram já a sair [livros] de acordo com as novas regras, nomeadamente as traduções de obras estrangeiras”. E, sem avançar nomes, reconhece o regime de excepção: “Quanto às obras de autores de língua portuguesa, a mesma regra se aplicará, embora nestes casos deixemos ao critério dos autores e respeitemos a grafia que entenderem seguir.” Ou seja, a opção deve passar a constar da ficha técnica, explicando–se que o livro em questão segue o acordo ortográfico de 1990.
O CM sabe que entre os defensores da nova grafia estão os escritores José Eduardo Agualusa, Lídia Jorge ou Pepetela.
A posição de colocar do lado dos escritores a hipótese de adoptarem ao novo acordo é transversal a grupos como a Babel, Presença ou Porto Editora. Esta última diz, porém, que “até agora não há autores que tenham mostrado resistência ao acordo”.
Ao CM, o responsável pela comunicação da Porto Editora, Paulo Gonçalves, explica que “a adaptação vai ser progressiva até 2014 e 2015” e que ficarão de fora “os clássicos de carácter histórico cuja ortografia dominante seja antiga”.
[Transcrição integral de artigo publicado no jornal Correio da Manhã de hoje, 02.09.11.]