Perante o estado de avanço do Acordo Ortográfico, não reconhece que combatê-lo hoje em dia é uma luta quixotesca?
Eu acho que quixotesco é pretender aplicá-lo, porque envolve uma dose de irrealismo, fantasia e inviabilidade, só comparáveis com os do fidalgo da Mancha.
Porém, já está a ser aplicado por editoras e órgãos de comunicação, sem grandes dramas…
Está por uns e não está por outros. Os dramas são os dos professores, dos responsáveis pela educação, dos próprios alunos. E vão agravar-se.
Sendo obrigatória a aplicação do Acordo Ortográfico nos serviços do Estado desde Janeiro último, classifica a sua recusa em aplicá-lo no CCB como uma desobediência perante o Estado? Que reacções recebeu do governo a esse respeito?
O que é impossível não pode ser obrigatório. Era e é o caso. Não se tratou de desobediência, mas de inviabilidade verificada no caso concreto.
Voltando atrás: tem sido viável a diversos níveis. Porquê inviável?
Não, o que está a ser aplicado não é o acordo. É um vocabulário que não corresponde às exigências do próprio acordo e não foi elaborado de acordo com ele.
(…)
Afinal para si o que é que custa mais a engolir? O Acordo Ortográfico ou a colecção Berardo?
O Acordo é um crime contra a língua portuguesa. A colecção Berardo não é.
[Transcrição parcial de entrevista a Vasco Graça Moura, Jornal i, 16.07.2012]
[Nota: os conteúdos publicados na imprensa ou divulgados mediaticamente que de alguma forma digam respeito ao “acordo ortográfico” são, por regra e por inerência, transcritos no site da ILC já que a ela dizem respeito (quando dizem ou se dizem) e são por definição de interesse público (quando são ou se são).]